Estou mudando o blog

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quarta-feira, julho 27, 2005

CLICHÊS DE PROPAGANDA - Parte 2

#2 - "Felicidade numa prateleira perto de você."

É verdade que o consumo é um aspecto fundamental e indissociável das formas de organização social e econômicas do homem atual. O ser humano depende da compra de alimentos que constituem a base de sua sobrevivência, de artigos de vestuário que possibilitam seu convívio em sociedade, de produtos de limpeza que previnem a ocorrência de doenças, de livros que facilitam a aquisição de conhecimento e de artigos artesanais diversos que providenciam conforto espiritual. Mas como justificar a venda de produtos como uma sauna portátil? Esta é a tarefa árdua que milhões de publicitários ao redor do mundo enfrentam cada vez que recebem a tarefa de anunciar um produto de utilidade duvidosa, e as soluções que encontram, como bem sabemos, nem sempre podem ser classificadas como "criativas", "inteligentes" ou "verossímeis".

De fato, o que ocorre na maioria das vezes é a incorporação de propriedades fantásticas ao produto e sua caracterização como fonte de felicidade instantânea pelos meios de propaganda. Assim, um esmalte de unha jamais servirá apenas à finalidade estética de colorir as unhas; ele também proporcionará a mulher que o usa uma promoção na empresa que trabalha, provocará um misterioso acidente naquela vizinha que rouba seus jornais aos domingos e, de quebra, sua loja favorita entrará em liqüidação. Se no começo do comercial o garoto quase perde o jogo de futebol porque a sola de sua chuteira descolou, no final ele terá assinado um contrato com o Real Madrid, tudo por causa dos poderes mágicos da Super Bonder.

Examinem agora o caso da propaganda do Colgate Tripla-ação: aquela família está usando o mesmo creme dental há quantos anos, três? (Grande coisa, o meu eu uso desde que se chamava "Kolynos"). No começo, os membros da família eram simplesmente representações das três ações prometidas pelo produto, além, é claro, da mãe cujo único objetivo na vida é ir ao supermercado para comprar pasta de dente. Mas com o tempo, e ao que parece com a lenta degradação das funções cerebrais dos publicitários que idealizaram a campanha (que já não era um primor da teledramaturgia antes), o creme dental passou a exercer efeitos alarmantes sobre a vida das pessoas ao redor da "família colgate": André está atraindo meninas como se fosse uma mamoplastia gratuita, Papai está numa curva ascendente rumo a três pontes de safena e os dentes de Ana são capazes de partir ao meio uma lata de ervilhas. Não é necessário muita criatividade para imaginarmos como a família estará daqui a alguns anos, enquanto -- não se enganem -- continuam a anunciar para todo o Brasil e América latina os milagrosos poderes ocultos do Colgate Tripla-Ação:

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INTERLÚDIO 2.2 - Mama don't go, Daddy come home
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LOCUTOR - Aí vem o André, com suas namoradas!
COLGATETES - Que hálito fres-co!
LOCUTOR - Ele teve uma doença venérea batizada com seu próprio nome!
COLGATETES - Colgate tripla-ação!
LOCUTOR - Papai agora está dominando o mundo!
COLGATETES - Que dentes bran-cos!
LOCUTOR - Ele realizou experiências genéticas em seu próprio corpo e agora está enviando sondas para mundos alienígenas em busca de recursos minerais para a construção de uma pirâmide em sua homenagem!
COLGATETES - ...
LOCUTOR - Os dentes da Ana cresceram ainda mais!
COLGATETE VERDE - O quê??? Não é possível.
LOCUTOR - Eles agora são a nona maravilha do mundo!
COLGATETES - ...pro-proteção anti-cáries!
LOCUTOR - São o único monumento visível da lua depois da destruição da muralha da China pela chuva ácida!
COLGATETE AZUL - Ok, pra mim chega.
LOCUTOR - Mamãe foi substituída por uma máquina de refrigerantes que, ao invés de dar refrigerantes, dá Colgate Tripla-Ação!
COLGATETES QUE SOBRARAM - ...colgate tripla-ação!
LOCUTOR - Novas evidências científicas confirmam que Colgate Tripla-ação não aumenta o risco de câncer de pâncreas! Era tudo uma mentira enviada naqueles e-mails, tá? Repetindo: COLGATE TRIPLA-AÇÃO NÃO CAUSA CÂNCER DE PÂNCREAS! Podem voltar a comprar agora, ok? Sério, comprem mesmo. Eu só consigo emprego neste comercial hoje em dia! Ei, aonde vocês estão indo?

quarta-feira, julho 13, 2005

INTERLÚDIO 8 - Livre associação
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(Close em um tabuleiro de Scrabble, com a palavra "Sagatiba" formada pelos blocos de letras)
LOCUTOR - O que será Sagatiba? Será que é uma cidade do interior de São Paulo? Será que...
TELESPECTADOR - Cachaça.
LOCUTOR - ...tipo de-- HEIN?
TELESPECTADOR - Cachaça.
LOCUTOR - ...
TELESPECTADOR - Cachaça, Sagatiba é cachaça. Você ouviu.
LOCUTOR - Sim, mas... peraí, esse produto acabou de chegar ao mercado!!!
TELESPECTADOR - É, mas fica meio óbvio com esse nome. Quer ver? Querida, o que é Sagatiba?
TELESPECTADORA - Cachaça. Com esse nome, só pode ser cachaça.
TELESPECTADOR - Eu avisei.
LOCUTOR - Mas, mas... ela poderia ter ouvido você do outro cômodo!
TELESPECTADOR - Filha, o que é Sagatiba?
MENINA DE 5 ANOS - É aquele negócio que a vovó bebe de manhã pra levantar da cama!
TELESPECTADOR - Viu? Cachaça.
LOCUTOR - Não! Quer dizer, eu... Eu...
TELESPECTADOR - Olha, esse comercial tá demorando muito pra acabar, tá? As pessoas estão mudando de canal.
LOCUTOR - Eu.. Esperem, eu ainda tinha alguns trocadilhos pra fazer!... E... e também algumas piadas com estereótipos culturais e raciais, e--
BOB ESPONJA - FESTA DAS BOLHAS!!!

sábado, julho 02, 2005

INTERVALO 2 - O que aconteceu com este blog?

E mais uma vez estou aqui, em frente à caixa de texto em branco do site do Blogger, pensando no que eu devo dizer para os leitores de "Eu odeio publicitário", pasmo (mas não muito surpreso) ao perceber que faz exatamente dois meses desde a minha última postagem. Digo agora, sem a mesma postura defensiva das outras vezes que escrevi sobre o mesmo assunto, que é realmente terrível deixar um trabalho inacabado, pessoas aguardando a próxima atualização da página sem ao menos ter a certeza de esta será de fato atualizada. E é mais que natural que a espera canse, e que os leitores vão se dispersando ao longo do tempo. Já reavaliei diversas vezes este blog, e sempre chego à conclusão que ele é ótimo para primeiros leitores, aqueles que visitam a página pela primeira vez e encontram um mar de mensagens já escritas, mas é terrível para os mesmos leitores que retornam no dia, na semana, ou no mês seguinte, e percebem que a única nova adição à página foi um comentário de três linhas sobre os plágios de músicas famosas nas propagandas da Vivo. Não ser lido, ou ser lido menos do que gostaria, é um risco que eu assumi ao decidir que só escreveria quando quisesse, que não submeteria este blog à mesma série de prazos e restrições de horários que se aplicam a todas as demais partes da minha vida. Que só escreveria quando realmente tivesse algo a dizer.

Mas escrever sobre o quê? Me peguei agora com uma absoluta falta de assunto; na verdade, não consigo pensar em nenhum comercial, outdoor ou anúncio de revista recente que tenha desencadeado em mim aquela conhecida reação de revolta que reverbera neste blog. É impossível que as propagandas tenham ficado melhores; aliás, como tudo na cultura contemporânea, a tendência é que fiquem cada vez pior. É muito mais provável a hipótese inversa, a de que as propagandas não ficaram melhores, e sim que meu limiar de tolerância para elas tenha ficado maior. As propagandas já não me ofendem como há dois anos; ou então elas continuam me ofendendo, mas aquilo que eu poderia dizer sobre elas já foi dito por mim antes, sobre outras propagandas no passado cujos erros continuam se repetindo no presente. Será que já esgotei tudo que tinha a dizer sobre o uso diabólico e demenciante da Publicidade e da Propaganda? Convenhamos, é um assunto bastante enfadonho - se bem que tudo fica enfadonho quando é repetido à exaustão. E a única saída que encontrei desta falta de inspiração, como percebem, foi justamente escrever sobre a falta de inspiração. É aquele momento do filme "Adaptação" em que o roteirista finalmente inclui a si mesmo em seu trabalho.

Uma coisa curiosa é que eu tomei a decisão de começar este blog justamente após ver "Adaptação" no cinema. Na verdade, o conteúdo do filme tem menos a ver com o conteúdo do blog do que com a vontade de simplesmente ter um blog, uma porta de saída, não importando sobre o que escrevesse. Não queria simplesmente escrever sobre minha vida ou meu cotidiano, então escolhi publicidade como tema (com o objetivo principal de divulgar a lista de comerciais com plágios musicais). E à medida que continuei publicando novas mensagens no blog, ao me deparar com uma eventual falta de assunto, fui aprendendo como utilizar o tema para escrever sobre o que eu quisesse, ou, de forma indireta, sobre o que eu estava vivendo em cada momento. A inspiração para série "A Experência", por exemplo, veio justamente numa época em que eu passava a maior parte do meu tempo livre assistindo à MTV, por absoluta preguiça mental; mais tarde, adaptei a história ao tema do blog após perceber que a MTV exibe basicamente comerciais (no sentido mais amplo da palavra) e vinhetas sem sentido o tempo todo.

Mas, de fato, eu nunca repetiria aquele pontapé inicial que dei em abril de 2003, quando postei não menos que 16 mensagens. Era uma época diferente, os blogs ainda eram novidade e todos escreviam diariamente no seu, fazendo juz ao nome da ferramenta (weblog = diário na rede). Foi interessante também acompanhar o processo de migração da maioria dos os usuários para os fotologs e, mais recentemente, pro Orkut. Se houve uma queda da popularidade do serviço, a rede provavelmente ganhou em qualidade, e tenho percebido que os blogs realmente bons foram aqueles que perseveraram. Me sinto confortável em dizer que me incluo entre estes que tem a intenção de continuar fazendo algo interessante e divertido, e peço desculpas sinceras por não ter a capacidade de escrever com uma freqüência maior. Tudo que tenho a dizer agora é que este blog não está morto. Posso adiantar que ainda vêm três capítulos de "A Experiência" pela frente; a segunda parte da sessão "Clichês de Propaganda" está praticamente pronta, mas ainda não encontrei um exemplo apropriado de comercial para incluir no texto; e, é claro, mais músicas plagiadas e comerciais ofensivos continuam chegando sem parar, só preciso reunir um bom conjunto de ofensas antes de começar a postar tudo aqui.

Prometo que volto ao normal na próxima mensagem. Aguardem.