Estou mudando o blog

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domingo, agosto 31, 2003

Este blog é construído à base de raros lampejos de verborragia intercalados por longos períodos de falta de inspiração. Conversando com uma amiga a respeito da minha suposta falta de material para escrever aqui, ela me deu o seguinte conselho: "Basta assistir à TV aberta para ter o que falar no seu blog. Coisa ruim é o que não falta". E foi o que eu fiz. Esta semana, entre outras coisas, assisti pela primeira vez a um capítulo inteiro de 'Mulheres Apaixonadas', mas, apesar de ficar positivamente alarmado com a qualidade da atuação de Eric Marmo, ainda assim não consegui encontrar nenhum assunto especialmente interessante para ser abordado aqui. Acho que o problema é que eu já fiquei tão acostumado a ver coisas horríveis o tempo inteiro na TV que eu já não consigo mais distinguir um comercial simplesmente "ruim" de um "extremamente ruim".

A única coisa digna de nota que eu vi em minha frustrante 'semana dos horrores da TV aberta' foi um comercial das Casas André Luiz, uma instituição filantrópica. Eu nunca imaginei que acabaria usando este espaço para falar mal de uma campanha beneficente, mas realmente não foi uma boa idéia colocar Jair Rodrigues para falar sobre as crianças portadoras de deficiência. É como se o Q.I. verbal dele fosse menor do que o de qualquer uma das crianças que aparecem no comercial. Ele tenta convencer o expectador que os portadores de deficiência são 'séres humânios' como qualquer outro e acaba reforçando todos os estereótipos negativos possíveis e imagináveis a respeito dessas crianças. Ainda bem que gravaram outro comercial, com Marisa Orth, pra minimizar um pouco os danos que o outro está causando.

domingo, agosto 24, 2003

OUTDOOR ASSUSTADOR 5 - Anúncio das cuecas Mash com Daniel.

quarta-feira, agosto 20, 2003

Escrever neste blog se tornou um exercício altamente problemático pra mim. Quando minha internet não está fora do ar por causa do clima, meu computador está sendo atacado pelo vírus MSBlast e reiniciando automaticamente toda vez que ligo o meu modem. O texto que vocês lerão abaixo deveria ter sido publicado nesta página na segunda-feira da semana passada, dia 11, mas por causa de alguns problemas técnicos acabei salvando o conteúdo em um arquivo .txt na ocasião e só agora me lembrei da existência desse texto. Lá vai:

A TV é uma droga

A pior coisa da TV a cabo é (adivinhem) os intervalos comerciais. As vinhetas que anunciam os programas exibidos por cada canal se repetem exaustivamente e só são renovadas depois que você já enlouqueceu e decorou a ordem de todas as cenas de cada uma. Os mesmo vale para os comerciais dos produtos anunciados, que chegam a ser exibidos mais de uma vez no mesmo intervalo, de vez em quando duas vezes consecutivas. Você também é obrigado a assistir, em alguns canais, a comerciais de sabão em pó argentino nas horas mais inoportunas, e ainda por cima agüentar infomerciais dublados em Miami sendo exibidos em todos os horários.

E hoje eu estava todo animado pra assistir ao novo episódio de 'Sex & The City' (quem sabe hoje tenha uma cena de nudez parcial de uma das protagonistas?). Sintonizei no canal 42 precisamente às 22:45, horário de início do programa de acordo com o guia. O seriado estava prestes a começar, o locutor começava a anunciar a lista de patrocinadores do programa, e então meu irmão, que estava sentado do lado, pegou o controle remoto e mudou de canal. 'Ah, eu não tô a fim de ver essa avalanche de comerciais de novo não.'

Como assim? O horário de início do programa tinha acabado de passar. Peguei o controle remoto e voltei para o canal 42. Estava passando o comercial do novo Lux, aquele em que uma garota já bonita realiza o seu desejo de se transformar em Gisele Bündchen através dos poderes mágicos do sabonete e desfila no bar ao som de uma música muito suspeita que parece uma colagem de todas as músicas de Shakira conhecidas. Que estranho, eu pensei após assistir a mais alguns comerciais, já se passaram três minutos e nada do programa começar.

Mudei para o canal de filmes que estava exibindo 'Beijando Jessica Stein'. Já haviam se passado seis minutos desde o suposto início de 'Sex & The City'. Incrédulo, fiquei indo e voltando ao canal 42, toda vez me deparando com um comercial diferente, às vezes dois comerciais diferentes da mesma marca. No caso, os dois comerciais do Seda Pro-Color, cada um com uma música plagiada diferente (a primeira uma versão da canção 'Bitch', de Meredith Brooks, que até já mencionei na minha lista de músicas plagiadas; a segunda, uma cópia praticamente idêntica de 'I Try' de Macy Gray).

DEZ MINUTOS! Dez malditos minutos de comerciais e a porra do programa não começava! Já nem me lembrava mais o que exatamente eu queria assistir pra início de conversa. Me resignei a assistir ao resto de 'Beijando Jessica Stein'. O filme tinha chegado na cena em que a protagonista, finalmente feliz com sua namorada, é beijada pelo colega de trabalho obviamente apaixonado por ela.

'Quem ele pensa que é? Ben Affleck?', disse o meu irmão ao mudar de canal. 'Sex & The City' finalmente começava, às 22:56.

terça-feira, agosto 05, 2003

CLICHÊS DE PROPAGANDA - Parte 1

#1 - "Nossos seres humanos são melhores do que os outros."
O produto pode ser um creme contra acne, uma tesoura para pêlos do nariz, um instrumento de tortura, não importa. A pessoa que nos comerciais utiliza o produto anunciado, e não o produto concorrente, sempre será mais bonita, mais bem vestida e mais simpática, ou simplesmente menos ridícula ou espalhafatosa. Este talvez nem seja um clichê, e sim uma regra absoluta das Ciências da Publicidade que deve ser seguida em todos os comerciais produzidos, especialmente se considerarmos que comerciais são poderosas armas de dominação ideológica a serviço do poder hegemônico. As estéticas e os comportamentos considerados "apropriados" para a sociedade são associados ao produto que está sendo vendido, servindo ao duplo propósito de aumentar os lucros de determinadas empresas e de consolidar nos expectadores os padrões de beleza e normalidade que lhes foram impostos. Isso ocorre porque a propaganda é construída de forma que as pessoas se identifiquem com aquele personagem idealizado, o que utiliza o produto anunciado. Em suma: o público alvo de 99% dos comerciais produzidos hoje em dia é gente que se acha.

EXEMPLO 1 - Comercial do Crunch Cereal
A câmera focaliza um jovem sentado numa mesa, servindo para si mesmo uma tigela de Crunch Cereal para seu café da manhã. Sua atitude e expressão facial, bem como seu modo de vestir, revelam que ele não é muito diferente da maioria dos rapazes normais de sua faixa etária. A porta do quarto se abre e dela surge um outro rapaz, provavelmente da mesma idade, acompanhado de três garotas bonitas. O jovem que acaba de entrar está vestido de maneira nada convencional, especialmente para aquela hora da manhã: um terno branco, uma camiseta com tons berrantes e óculos escuros coloridos. Ele faz então uma piada sobre o fato de que ele está acompanhado de três garotas, enquanto o outro rapaz está só. O desagrado é visível na expressão facial do protagonista. De repente, uma coisa fantástica acontece: ao mastigar os primeiros flocos de arroz da sua tigela de cereal, os óculos escuros do rival se despedaçam espontaneamente. Uma coincidência? Há apenas uma forma de descobrir... Ao mastigar outra porção de seu Crunch Cereal, desta vez são os sapatos dele que estouram. "Mas é claro", ele pensa, "as ondas ultrassônicas emitidas quando eu mastigo meu Crunch Cereal destroem seletivamente as posses materiais do meu inimigo!". Mais algumas colheres de cereal depois e desta vez são as roupas e o carro do rival que levam a pior. As garotas bonitas que antes o acompanhavam parecem horrorizadas ao descobrir que ele é mais baixo do que o normal. Parece ser apenas uma questão de tempo para que elas comecem a se interessar pelo rapaz que está sentado na frente delas, provavelmente mais alto do que o bufão que acaba de sair pela porta. Ele recebeu a punição adequada por seu pecado de se vestir de forma diferente e por seu comportamento nada agradável. Mais ainda: por ele não ter tido a idéia de utilizar os poderes do Crunch Cereal para revidar os ataques.

EXEMPLO 2 - Comercial da Skol
O cenário é o velho oeste. Dois bandidos estão prestes a serem executados, à forca, por seus crimes. Uma multidão assiste ao espetáculo. O juiz então se aproxima para perguntar aos réus quais seriam seus últimos pedidos; surpreendentemente, o juiz, e todos os presentes, falam Português, a despeito da localidade e da época histórica. O primeiro bandido, um sujeito grande, despenteado e com um certo descuido com a condição de sua pele facial, diz com sua voz grave e truculenta: "Em quero uma cerveja, mas não pode ser Skol!". As pessoas se surpreendem com a natureza pouco ortodoxa de seu último desejo, mas fazem cumprir as palavras do bandido. Ao primeiro gole da cerveja de marca desconhecida, um bizarro acontecimento acaba salvando a vida do condenado: a cerveja parece ter se solidificado na forma de um quadrado em algum lugar no trajeto da garganta do indivíduo, o que, por alguma razão desconhecida, acaba impedindo a asfixia letal pela corda da forca. Curiosamente, ele ainda consegue emitir sons para tripudiar sobre o outro condenado, que provavelmente não usufrui da mesma esperteza e frieza de pensamento que salvaram a vida do primeiro bandido. O juiz pergunta então ao segundo bandido, um moço jovem, saudável, com um penteado da moda e um rosto levemente não barbeado que lhe dão um aspecto descolado, qual seria seu último desejo. "Uma Skol", ele diz, "posso até morrer, mas eu quero uma Skol". A multidão se entreolha. Quase imediatamente eles se dão conta do terrível erro que estavam prestes a cometer. Gritos começam a ecoar para que o rapaz seja salvo, obviamente ele é uma pessoa normal! Não há nenhuma razão para que ele seja executado! Não importa que crime ele cometeu, ele é bonito, simpático e bebe a cerveja que dentro do universo do comercial representa a ideologia hegemônica da comunidade local. O outro bandido fica entregue à fome e aos abutres.